Horto

Fernandes Távora

O meu ilustre amigo Lourenço Filho afirma que não pôde conseguir a boa vontade do Padre Cícero no sentido de incrementar a instrução primária em Juazeiro. Eis outro paradoxo aparente, só compreensível e explicável pelos que conheceram intimamente os homens e as coisas daquela terra. Padre Cícero sempre amou a instrução e desejou vê-la difundida em sua cidade, como poderão dar testemunho diversos moços que, a expensas dele, se educaram desde a escola primária até os cursos superiores. Se não atendeu ao esforçado e digno Diretor da Instrução Pública do Ceará, terá sido por causa estranha à sua vontade.

SOLENIDADE DE ENTREGA DE CERTIFICADOS DO CURSO DE AGENTE DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS

A solenidade aconteceu no último dia 19, segunda, às 19h no Horto do Padre Cícero, houve também a entrega de presentes e um jantar. Os alunos Hamilton, Leandra, Vanessa e Vinícius apresentaram um trabalho como resultado do curso, eles construíram duas maquetes que reproduzem as Romarias que acontecem na cidade de Juazeiro do Norte. A primeira representa: o Centro, a Igreja Matriz no Socorro, a Igreja dos Salesianos e Franciscanos. A segunda: a Colina do Horto, a Igreja do Bom Jesus do Horto e o Museu do Padre Cícero. O intuito do curso foi aprofundar o conhecimento sobre turismo de Juazeiro na comunidade do Horto, para os próprios moradores que ali habitam. Teve duração de 2 meses, foi ministrado pelo professor Antônio Carlos e contou com o apoio da Fundação Educativa Salesiana Padre Cícero. “O Sistema Preventivo de Dom Bosco é de cuidar dos jovens, das crianças e principalmente, daquelas pessoas que estão em situação de risco”. O Padre Cícero ajudou no desenvolvimento social de Juazeiro e principalmente das pessoas que moram na Colina do Horto. Segundo Carmina: “A Colina do Horto é o miolo do Cariri”! e “a preocupação dos Salesianos é de trabalhar a infraestrutura, a melhoria e o acolhimento dos romeiros”. Pensando nisso e em tirar os jovens da marginalidade, oferecemos este curso. O outro principal objetivo é de implantar e ensinar as Políticas Públicas para toda a comunidade, para depois reivindicar junto às autoridades da cidade as melhorias necessárias para a Colina do Horto. Pois a busca pelo conhecimento é um investimento próprio.

A FESTIVA DEVOÇÃO À MÃE DAS DORES E AO “PADIM CIÇO”

No ano santificado pela misericórdia, tendo o Padre Cícero reconciliado pela Igreja Católica, o ciclo do calendário romeiro ganhou uma expressão ainda mais significativa e que compreende um tempo muito particular em Juazeiro do Norte. Para os fiéis, vindos das mais longínquas regiões do Nordeste e do país, setembro é mês de dias intensos, de encontros que envolvem fé, alegria, festejos e sentimentos profundos. Do Horto do Padre Cícero, adentrando ao Museu Vivo, embora contando já quarenta e seis viagens, o sergipano Eloy Alves de Santa, 75, não perde a capacidade de se emocionar: – É Santo, Santo! – Exclama, elevando as mãos ao céu, cada vez que “espia” a estátua do seu padrinho. A Romaria de Nossa Senhora das Dores, que leva à Colina do Horto milhões de pessoas, repete um ritual festivo incentivado pelo próprio Padre Cícero, cujos significados fogem à compreensão humana, exceto pela ótica da fé. “Aqui é um chão santo. O Padre Cícero atraia os romeiros pra cá e os ensinava a rezar. Então, o balanço que a gente faz desses dias [de Romaria] é positivo, independente de números, porque a gente percebe que romeiro, realmente, vem depositar a sua fé. Eles têm uma devoção imensa”, ressalta a administradora do Horto, Carmina Freitas. Os festejos em louvor à Mãe das Dores revelam-se, assim, como uma das manifestações mais significativas das expressões da devoção romeira. Para o pernambucano Antônio Luís, 76, é até mais do que uma expressão de fé, é “a própria vida da gente”.

ROTEIRO DA FÉ ROMEIRA

O primeiro destino, depois de dar voltas no cajado do Padre Cícero e fazer visita ao Museu Vivo, é a trilha do Santo Sepulcro. A estrada é de chão batido, um percurso longo, cheio de pedras e areias, como no bendito dos romeiros. No dia em que a Liturgia da Igreja celebra a Festa da Exaltação da Santa Cruz, o pernambucano Francisco José dos Santos, de 68 anos, levou a filha e o genro para agradecer o precioso dom da sua saúde. A penitência de Seu Francisco é um gesto revelador da sua vitória sobre uma grave enfermidade que lhe comprometeu todos os movimentos do corpo. Nas visitas ao Horto, ele demonstra o maior sinal da sua devoção à Mãe das Dores e ao seu padrinho Padre Cícero. – Quando eu me vi deitado naquela cama, eu lembrei dessa caminhada aqui. Eu disse para os meus parentes: eu tenho que ir no Juazeiro, tenho que ir! E veio. Hoje, completamente curado, deixa um recado para os companheiros de romaria: – Quem vem a Juazeiro, depois de ir no Cajado do Padre Cícero, tem que vir aqui e passar pelo Santo Sepulcro”. Cercado de pedras, das mas variadas formas e modelos, o local lembra o mesmo sepulcro onde depositaram o corpo de Jesus, após a crucificação. Para chegar até lá, é preciso, antes de tudo, muita fé e disposição, orienta seu Francisco. A trilha de acesso compreende 2.650 metros. O Santo Sepulcro é o local onde foi enterrado um dos beatos que viveram na época do Padre Cícero e apresenta duas capelinhas, onde os romeiros acendem velas e fazem suas preces. Para aqueles que apreciam fotografias, há diversos mirantes de paisagens naturais, além da vista monumental da estátua do Padre Cícero e a Igreja Bom Jesus do Horto. Para Seu Francisco, a experiência da caminhada sempre o faz mais fortificado, pela imensidão da grandeza de Deus, materializada na natureza.

OBJETOS DE DEVOÇÃO: SINAIS VISÍVEIS DA NOSSA FÉ

A primeira coisa que dona Maria Justina fez ao chegar à Colina do Horto foi comprar um rosário e mandar o padre “benzer”. Para ela, o rosário é uma forma de testemunhar sua fé e sua devoção à Mãe das Dores, tão incentivada pelo Padre Cícero. O costume de abençoar objetos de devoção como velas, crucifixos, medalhas, terços, escapulários, imagens do Senhor, da Virgem e de santos, é antigo. Para a Igreja, eles são considerados “sinais visíveis da fé”, recursos auxiliares para unir, ainda mais, o cristão a Deus, estimulando, desse modo, o progresso da fé. O Padre Mariano, da Congregação Salesiana, explica que a bênção concede aos fiéis o uso dos objetos como sinais de fé e piedade. “É um gesto de amor e devoção quando você tem algo abençoado por Deus, pelas mãos do padre”, disse. Na Colina do Horto, os objetos de devoção são abençoados, sempre, ao final da Santa Missa.

A ESPERANÇA NO “PADIM”

Quando a filha mais velha da pernambucana Michele Maria da Silva nasceu, uma notícia transpassou seu coração de mãe. Ela ouvira do médico que a criança, acometida por uma anemia falciforme, não vingaria muito tempo.  Mas ela não se abateu. Recomendou a menina ao Padre Cícero e a Mãe das Dores e viu, com esperança e fé, a filha sobreviver. Na manhã desta segunda-feira, dia 12, quando o sol, imponente, brilhava no céu, Michele preparou as filhas com vestes que lembravam uma batina e, juntas, subiram às escadas para tocar, com os olhos e o coração, o cajado daquele que as “acudiu” na aflição.